terça-feira, 17 de maio de 2011

As Razões

   Tenho de admitir que existe uma pressão social para parecermos/sermos de uma certa maneira: há um padrão de beleza, um comportamento ideal e um determinado estatuto a que só se chega com uma certa quantidade e qualidade de coisas que se possui. E podem considerar-me fútil e influenciável, mas a verdade é que os meus distúrbios alimentares começaram em tenra idade, na procura de preencher estes requisitos que, inconscientemente, me chegaram. Eu tinha de, pura e simplesmente, pertencer e quantos mais feedbacks positivos recebia, melhor.
   Ainda hoje tenho a obsessão da magreza, do corpo feminino como sendo frágil, leve e pequeno, pois continuo a ouvir o desejo das mulheres em geral para este estereótipo. Amigas, conhecidas, mães, tias, avós, primas... O certo é que são as mulheres que alimentam esta "mania" ao fazerem e darem tudo por tudo para atingirem esta perfeição de beleza. E se somos nós que temos este poder de persuasão, não tenho dúvidas que, em conjunto, conseguiríamos quebrar estas correntes que nos limitam e destroem, tanto o corpo como a alma.
   Contudo, os meus longos anos com distúrbios alimentares e as suas várias facetas (anorexia, compulsão alimentar, ednos) reduziram a noção de magreza a ser somente a recompensa, à deliciosa recompensa, confesso. O que me prende a estes comportamentos auto-destrutivos hoje em dia é mais do que o simples desejo de ser magra (embora, novamente, seja ainda este o meu patamar de excelência). Eu venero a dor que a fome me traz, as tonturas por não comer, o vazio físico sobrepondo-se ao emocional e, sobretudo, o auto-controlo. Portanto, magreza = controlo, magreza = dor física, logo magreza = recompensa merecida e desejada.
   É claro, os episódios compulsivos são muitas vezes irresistíveis por também várias razões. Ora vejamos, um único episódio de, usando o termo inglês, binge eating preenche instantaneamente o vazio físico ao mesmo tempo que me deixa embriagada, "com a moca"; e, não menos aditivo, é a minha desculpa para me refugiar no meu quarto, fugindo de todos os medos do mundo exterior - que nem eu própria sei bem quais são. Mas todo este prazer momentâneo, que pode durar 1 dia, uma, duas semanas, ou até meses (anos...?) trazem a carga negativa da culpabilidade, do descontrolo total das minhas acções, um sentimento de imundice e falhanço. E, assim, nada melhor que a fome.

   Como sair deste ciclo que me destrói, sabendo que eu tanto o venero como odeio?   

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