sábado, 10 de setembro de 2011

Mal-Estar; Listas; Procurar entender

   Vamos a ver se escrever aqui, neste diário virtual, consigo ter alguma perspectiva, um senso da minha situação. Pode ser que consiga exteriorizar qualquer traço negativo que me tem mantido presa ao padrão compulsivo. Todos os dias, há já varias semanas, tenho comido compulsivamente. Não é de espantar, portanto, o meu ganho de peso, a barriga inchada, a pele oleosa, a falta de energia, o desgosto, a depressão...
   Não parece haver coisa alguma na minha vida que me dê prazer, nada por que lutar, pois sinto-me à partida uma derrotada. Esperem lá, minto! Na verdade até existem coisas que adoro, pessoas que amo, sonhos a serem alcançados. No entanto, no agora, só me foco no que me dá tristeza - ou no que me convenci ser fonte de tristeza - sendo o meu corpo físico. O desejo de ser magra é enaltecido pelo comportamento compulsivo constante em relação à alimentação. Uma parte de mim dizia-me que eu sou maravilhosa tal como sou. E eu acreditei, por breves momentos, até chegarem as compulsões alimentares, dias e dias seguidos, semanas atrás de semanas. E fico cansada, enojada, odeio o meu corpo e o meu ser fraco. E desejo emagrecer, mas não consigo simplesmente parar.

   De seguida, vou escrever umas listas para me ajudar a perceber a fonte do distúrbio.

Lista 1
      Do que tenho medo? / O que me deixa com stress?
  • Impossibilidade de pagar as propinas - ter de pedir dinheiro à avó;
  • Entrar no mundo de trabalho - não encontrar algo que me satisfaça;
  • Ser posta à prova - logo, ter receio de entrar no mercado de trabalho;
  • Dar-me a conhecer - estabelecer novas relações;
  • Insucesso;
  • Rejeição.
Lista 2
        Desenvolvimento da Lista 1
  •  A situação familiar com a minha avó não é das melhores. Ela tem um feitio difícil e criou distanciamento com o mundo, mesmo com a própria filha, a minha mãe. Logo isso traz ressentimento da minha parte. Já há vários anos que oiço comentários mesquinhos da parte dela em relação a todos, eu incluída, o que me magoa/entristece. Usa o dinheiro para ter um certo poder sobre nós, o que me deixa incrivelmente desconfortável porque dependo dela a nível financeiro. Pedir-lhe uma quantia enorme para pagar as propinas traz um sentimento de culpa, vulnerabilidade - devia ter organizado as minhas economias de forma diferente ao longo do ano, mas não soube como, nem tive coragem de pedir ajuda. Cada dia que passa a minha ansiedade aumenta, pois preciso mesmo de lhe pedir mais de mil euros para as propinas e não tenho coragem - apetece-me chorar só de pensar. O que eu mais quero? Mostrar-me capaz, independente, fazer o meu dinheiro.
  • Estou finalmente licenciada, embora o curso não me tenha preenchido. As opções de emprego deste curso são poucas e nenhuma me atrai muito, apesar de gostar distou ou daquilo, parece que não há paixão/entusiasmo por nada. Tenho medo de viver presa a algo que não goste.
  • Esta está ligada ao insucesso. Tenho muito medo de falhar, de que não gostem de mim, que me considerem fraca, desmotivada e, pior, burra.
  • Nunca mostro tudo de mim - sinto vergonha de mim mesma? Partilhar a minha vida com alguém, a nível sentimental/romântico, assusta-me, pois acho que não o suficiente, receio cair no ridículo, de não ser amada.
  • A rejeição... Todas a vivemos em certas alturas da nossa vida. Por mais difícil que seja, é natural. No entanto... assusta-me demasiado.
Estou muito cansada, logo escrevo as próximas listas: do que gosto, do que desejo, de como alcançar os sonhos/paixões.

sábado, 20 de agosto de 2011

he's so charming...

but he is also:
  • 15 years older;
  • married;
  • has 2 small and very cute kids;
  • my mother's bestfriend brother.
So there's a big no-no to me, I just stare... and have fantasies with *cof*
I don't know why I keep "falling" for the unavailable guys, but I could swear his eyes take a min or two in me too. Scratch that one out. He showed me how madly in love he is with his wife. He's the kind of man I want for myself. And we'll find each other <3

i haven't been binging nor restricting for some days. I'm happy with myself, I just need to accept my body as it is now. Though is difficult when everyone talks about no fat, yes thin.

sábado, 6 de agosto de 2011

fracasso

só para dizer que fui fraca e comi pizza e mousse. mas não vou desistir e não vou comer mais nada. amanhã continuo com o plano - só gelatina.

sou um nojo e uma fraca.

13h50

   Fiquei ridiculamente espantada com o que engordei nesta semana, não me lembro de ter uma barrigona deste tamanho, a sério, parece barriga de grávida! Para não falar das banhas dos lados, do rabo gigantesco e das pernas roliças. Ugh, se não estivesse tão enojada quase que me punha a rir deste corpo. Acabei de tomar banho e finalizei-o com uma chuveirada geladinha - já que dizem que a água fria tem a capacidade de acelerar o metabolismo. Quem me conhece sabe o pavor que eu tenho da água fria. Custa-me imenso, nem respiro quando a água me toca. Ainda sinto o meu corpo a trabalhar no aquecimento... uff, até sabe bem.
   Estou aqui a escrever para demorar o mais tempo possível por duas razões: a família está a almoçar e eu quero fugir; não sei o que hei-de vestir, pois nada me serve. Ai, ai, ai estou tão gorda e nojenta!!! Mas o primeiro dia é o mais difícil, amanhã será melhor e depois de amanhã ainda melhor e por aí fora. Tenho é de me manter concentrada e controlada. Daqui a nada vou andar por aí para ver se queimo mais umas calorias.
    Hoje parece que todos me querem testar. Adivinhem o que é o almoço... pizza. Eu simplesmente adoro pizza e eles encomendaram aquela pizza boa de forno de lenha e ainda uma deliciosa mousse de chocolate. Mais uma vez, eu simplesmente adoro cho-co-la-te. Só a palavra me dá prazer. Mas tenho de ser forte. Já chega deste nojo acumulado em mim.

Um exemplo do que é ser eu

   Não faço a mínima ideia que título surgirá deste post, nem mesmo que texto se irá formar. Mas que interessa isso? Ninguém o vai ler, nem eu mesma vou reler estas palavras, são mais um eco meu perdido nas tranças largas da Internet. Sem dúvida que tenho um poço cheio dentro de mim, cheio de uma água suja e pestilenta, aposto que até corpos em decomposição flutuam neste poço. O problema é que não tenho coragem de mergulhar para vasculhar e analisar (até fico sem ar só de pensar) que medos/traumas/inseguranças possam estar por ali escondidos. Não, limito-me a observar daqui, da superfície, acobardada o suficiente pelo que vejo. E por onde começar? Oh bem, certamente, alimentação/corpo/distúrbios, que é o tema principal deste blog.
   Tenho estado num transe de comer compulsivamente há sensivelmente uma semana. Ao desespero e depressão que estas compulsões trazem, juntemos-lhe uma onda de irritabilidade, choro descontrolado e dificuldade em adormecer. Eu espero que tudo isto seja da nossa amiga TPM, inclusive o comer compulsivo. Tenho perdido dias de praia, faltado a jantares e outros compromissos e toda a diversão do Verão simplesmente porque me sinto... o quê? Exacto, uma GORDA e NOJENTA VACA. Eu quero controlar-me, quero esquecer as compulsões, quero divertir-me, ir comer caracóis e marisco. Quero ir passear, aproveitar o sol, mergulhar na água do mar, ver uns concertos e namoriscar a cowboyada que por aí anda. Quero mesmo. No entanto, mal consigo arranjar forças para sair de casa, inchada, pesada, encalorada, prefiro esconder-me entre paredes. É triste, eu sei, mas tenho tal nojo de mim que simplesmente não consigo.
   Imaginem, só para vos dar um pequeno exemplo, para não pensarem que estou a exagerar ou mesmo a fazer um auto-diagnóstico, não conseguirem adormecer por causa do excesso de comida no vosso estômago. Estão cheios, mal-dispostos, ensonados, com sede e calor e com um medo terrível do dia seguinte. Não saber como enfrentar o amanhã é das piores sensações, encontram-se perdidos, só pedem a alguém, ou a ninguém, para, com muitos por favores à mistura, vos deixarem morrer durante a noite. Ou então, milagrosamente, acordarem magros. Ah! Isso é que era, não fazem a mínima ideia quantas vezes este foi o meu desejo murmurado às almofadas. Desculpem, voltemos ao exemplo. Há uma crise de choro que tentam abafar e lá acabam por adormecer pelas 5-6 da manhã. Infelizmente continuam vivos, gordos e às 10h já estão de pestana aberta. Ora bolas, e agora? É o dia seguinte, o que faço? Isto porque, apesar de necessitarem de mais umas horinhas de sono, o medo desperta. Upa, toca a levantar, num total estado de desorientação e sem darem por ela, já estão com alguma coisa na boca - fruta, cereais, leite... o que estou eu a fazer? Merda, já que comecei... uma tosta mista, um iogurte e umas bolachas. Estou cheio. E cheio de sono. Mas não vão dormir. Esperam pela hora de almoço e continuam a comer. E bebem uns belos 2 ou 3 copos de vinho só porque já estão gordos. A vossa família já acabou de almoçar, cada um foi para o seu canto, alguém pergunta quais os planos desse dia. Mas vocês não podem ter planos, estão demasiado cheios para fazer seja o que for, ficam em casa. Não conseguem ter atenção a nada, não conseguem falar com ninguém, muito menos paciência para aturar a criançada. Só há uma coisa que ainda conseguem fazer - comer. O ritual continua até à noite, até ao dia seguinte.
   Agora, acham que conseguem ter uma pequena ideia de como me tenho sentido esta semana? Ah! Vamos juntar a esta sopa o vosso irmão excessivamente magro. Olham para ele e é só pele e ossos, contudo, numa mórbida crença, vocês invejam aquela magreza excessiva. Observam-no de forma obsessiva, ele come só porcarias e a más horas, ele não faz exercício, trabalha demais, e está claramente abaixo do peso ideal. Todos à vossa volta largam comentários de preocupação em relação ao vosso irmão. São como bombas que vos enchem de raiva e ciúme, portanto, comem mais. E a vossa mãe? Cada vez mais magra, a fazer exercício todos os dias à vossa frente, a receber elogios de amigos, conhecidos e desconhecidos, a comprar roupa nova para o corpo novo, a planear uma tatuagem como prémio de exibição. E vocês, revoltados por estarem raivosos em vez de felizes por ela, fecham-se no quarto a comer.
   Claro, podem dizer-me, usa-os como inspiração, junta-te à tua mãe nos exercícios, etc. etc.. Acham que ainda não pensei nisso? Ter ataques de voracidade não é propriamente uma escolha minha. Eu simplesmente não tenho controlo, pareço uma máquina criada unicamente para comer - e que belo trabalho faço. Vá, amanhã -hoje- é outro dia e a minha mente distorcida quer e acha que a única coisa a fazer é passar o dia a liquidos. E no dia seguinte continuar a passar fome e assim sucessivamente. E apesar de haver uma vozinha que me avisa que essa não é a solução, não senhora, a outra é mais forte.

   Há mais coisas a contar, mas parece que nada tem tanta importância como o facto de estar a engordar a olhos vistos. Não tenho a vontade de escrever sobre como ainda penso no espanhol todos os dias - com raiva, saudade, tristeza; como não me consigo pôr a estudar; como não consigo rir; como não sou capaz de acreditar no amor; como o medo da intimidade; como a melancolia; como a exposição de repteis que visitei hoje; como aquele rapaz que engraçou comigo; como a evil não me manda mesada e como não tenho coragem de lhe telefonar... Mas sei, ou estou convencida de que, vou ser capaz de enfrentar tudo isto quando emagrecer outra vez, quando começar a ter controlo sobre a comida. Até lá, a todos vocês que nada disto lêem, boa sorte.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Não foi compulsão...

... mas foi o suficiente para me deixar em baixo.

   Ora bem, vamos começar pelo início do dia. Subo para a balança e o peso é 52.6Kg. Não é mau, mas ainda é muito e corro o risco de amanhã, quando me pesar, ver-me outra vez nos 53Kg, devido ao que comi. Comecei bem, com uma nectarina ao almoço, um ice tea de limão ao final da tarde. Cheguei a casa tarde, sem fome, mas visto estar cansada fui comer. Na verdade já andava a planear o jantar desde que me levantei. Queria comer. Queria comer algo que me agradasse para não sucumbir a uma compulsão alimentar, portanto o plano era comer uma sandes da companhia Vitaminas e petiscar umas pringles só porque sim. Até aqui tudo bem, convenci-me durante o dia, pois amanhã passo o dia a líquidos! Mas não aguentei e comi mais de metade do pacote de pringles e mais uma sandes de queijo feita em casa. Fiquei cheia!!! Tudo bem, estou arrependida, mas amanhã vamos aos líquidos! Chega a noite e não durmo. Rebolo na cama, fumo uns cigarros, tento estudar, a mente vagueia, rebolo outra vez, mais uns cigarros e comida. Pois é, chegam as 4am e na minha mente oiço uma voz que diz, revoltada: Quero lá saber! Vou mas é comer... E como, mais uma sandes recheada de queijo e o resto do pacote de Pringles com o restinho de manteiga de amendoim que restava no frasco. Portanto, posso não estar a sentir-me desconfortavelmente cheia e zonza da comida, no entanto sei perfeitamente que o limite de calorias rebentou e bem!

   O plano continua, mas mais apertadinho, amanhã vou dar-me ao luxo de um sumo de laranja fresquinho ao final da tarde. E, durante a noite, caso não consiga dormir - o que é bem possível já que ainda estou acordada e são já 4h17am - vou beber algum pleno tisanas para me sentir cheia e não cair em tentação. E será assim o meu dia de amanhã. Não me posso é esquecer de estudar!

   Merda, não consigo sair deste ciclo... Ao menos que o peso desça =(

domingo, 12 de junho de 2011

Patética

   Nem imaginam o quão patética sou. PA-TÉ-TI-CA!
   Depois de estar pronta para sair com as meninas, o plano era nos divertirmos um pouco num dos bailes típicos da altura, entrei num frenesim de põe vestido, muda para calças, experimenta saia, pensa num top. Preocupada que a boleia chegasse, mandei logo uma mensagem a dizer que afinal não ia sair. Assim, há última da hora, desisto daquilo que poderia ter sido uma boa noite (e já que ando com dificuldades em adormecer, aproveitava para estar longe da comida aqui em casa). A desculpa foi baseada numas dores repentinas do período. Toda a mulher sabe que o desconforto é demasiado, portanto sempre uma boa mentira. Agora sinto-me patética por ter desistido de sair por me sentir mal com qualquer roupa! Quem no seu perfeito juízo faz tal coisa?
   Olhei para o meu reflexo em todos os espelhos desta casa e só consegui odiar toda a minha figura. Começando pela cara - tão feia, a pele com com alguma acne da menstruação e pálida, os olhos escondidos, cansados e com olheiras por baixo (parecem olhos de louca), a boca pequena e desinteressante; o cabelo, sem jeito, sem vida, estragado; o corpo, bem, gordo. Enfim, nada me parecia ficar bem, nem um sorriso.

   Sinto-me patética não só por ter ficado em casa, mas também por olhar para mim e ver um mulher feia. Sei que devia gostar de mim, de me achar bonita, sorrir e divertir-me. Mas eu só estou a conseguir ver uma pessoa feia.

   Ontem tive compulsão.
   Hoje não comi nada, ainda.
   Patética.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

COMPULSÃO!!!

   Acabei de ter uma compulsão daquelas nojentas, que dóiem, que me deixam tonta, enojada, a tremer, sem respirar e com uma, desculpem a vulgaridade da palavra, barrigona!!! Não sei em que posição estar porque me dói, não consigo pensar com clareza, nem escrever como deve ser.... estou agoniada, triste, frustrada, irritada, com um nojo enorme de mim mesma. Odeio-me tanto agora. E, ao mesmo tempo, odeio o espanhol. Não sei por quê, mas fiquei com um ódio súbdito em relação a ele. E a mim!
    Este é um texto irónico e mesquinho quando comparado com o anterior, mas eu não consigo evitar em escrever aqui (e depois passar para o meu bloquinho) o meu plano para amanhã. Tenho de me castigar, tenho de compensar isto. Só consigo pensar nos vestidos novos, tenho de emagrecer para entrar neles e não parecer uma lontra!!!

   Foi uma compulsão merecedora de não um, mas vários dias de compensação:
  • mousse de chocolate
  • um pacote inteiro de bolachas de manteiga
  • um pacote inteiro de filipinos
  • um prato cheio de massa e bifes de frango (3)
  • uma sandes de pão branco com manteiga, queijo e mais um bife
  • para não falar do prato de massa e 3 bifes ao almoço
  • morangos (também ao almoço)
que nojo, que nojo, que nojo... e o mal estar!!! aiii, dói fisicamente... imaginem psicologicamente...

   Aqui fica o plano para amanhã - FAST
  • Faltar à aula da manhã (dormiiiir)
  • Ir ao continente comprar águas, pastilhas e café
  • Ir à baixa ver lojas de livros em segunda mão
  • Tomar café nas docas e estudar
  • Deitar fora toda a comida que leva às compulsões (menos os bollycaos*)
  • Estudar, já em casa, para o debate de francês
  • Manter-me bem distraída até dormir
   E amanhã será assim. Não comer. As únicas calorias serão das pastilhas, cafés e águas, sendo que estas têm sabor. Sei que já disse isto, mas... SINTO-ME UM NOJO!!! FALHANÇO TOTAL!

   Estou tão triste... segunda vai ser fast, terça, quarta e quinta restrição...

*os bollycaos ficam para eu come-los quando me sentir magra à frente das outras pessoas. Adoro estar magra e mostrar-me aos outros a comer um doce. Mas hoje.... hoje só quero esquecer e desaparecer.

   É possível que hoje tenha tido esta compulsão enorme por ter tido vontade o fim de semana todo e não ter conseguido totalmente. Sei lá... no fundo sou mesmo uma fraca.

que ódio, que nojo

domingo, 5 de junho de 2011

Revolução

   A sensação no mundo é a seguinte: estamos a ser completamente controlados por aqueles com poder (sendo poder igual a dinheiro); todos nós somos influenciados por um mundo de entretenimento, mentiras são contadas uma e outra vez até acreditarmos nelas, gastamos parte do nosso dinheiro em tudo o que foi elaboradamente esquematizado e alterado para uns ganharem mais dinheiro, a outra parte é-nos tirado de forma a acreditarmos que é necessário este roubo. Desde a comida, às roupas, aos gadgets, à informação, ao lazer, tudo suga. Investimos naquilo que nos dizem que irá trazer bem-estar, felicidade, harmonia, plenitude, e insistimos, insistimos, e com o que é que ficamos? Nada. Nada a nível material, nada a nível espiritual, nada a nível emocional. Um grande nada que sentimos no mais profundo do nosso ser. O que fazemos então? Continuamos a colocar-nos em frente à televisão, absorvendo as verdades que nos contam, sobre o mundo, sobre o melhor estilo de vida, sobre um equilíbrio que não temos.
    É preciso mudar, dizem-nos. Ergue-te, fala, luta pelo que acreditas. Muda, evolui, revolta-te. Ajuda-nos a revolucionar esta merda de sociedade em que nos encontramos. Já chega que estes sacanas fiquem com tudo que é nosso, nos controlem, nos façam de burros, incompletos. Esta é a altura de dizer não, não me prendem mais, não ditem como tenho de viver, como devo pensar, quem devo ser, pois todos somos um. Somos UM grande, brilhante, forte, capaz, completo.
    E assim ficamos com o bichinho da mudança, da revolução. Mas como? Como podemos mudar esta máquina grandiosa que nos manipula? O que posso eu fazer? Eu não sei, NÃO SEI!!! Portanto, deixo esta minha veia consumista – não preciso de me vestir como os outros, de ter aquele vestido espectacular, aqueles ténis na moda, nem mesmo aquela maquilhagem que me vai pôr mais bonita. Já estou a cortar na mão de obra barata, na exploração, num dar constante àqueles que já muito têm. Deixo esta outra minha veia, mais difícil, de gulotona – não, não preciso de mais um hambúrguer, etc. daquelas ricas e altamente químicas cadeias de fast-food, nem dos alimentos puramente alterados cujos ingredientes naturais desapareceram. Deixo esta minha veia, igualmente muitíssimo difícil por estar tão presente na minha ideia de quem SOU, de perfeição.
    Vou ser diferente. Como? Sendo eu mesma! Ao inicio vai custar, visto que já estou tão perdida numa ideia que alguém criou sobre mim mesma. Tenho de desconstruir tudo, peça a peça, falar sobre isto e aquilo, mesmo não tendo opinião, arriscar num pensamento, riscá-lo e ter outro, até saber o que gosto, o que quero, o que penso. Porque nem o que penso e/ou acredito sei. Como mudar eficazmente a podre da sociedade não sei, não encontrei nenhum livro do género. Mas, ao menos, sei que já não quero pertencer a esta corrente material, mentirosa e manhosa. Se eu falar mal, paciência, se não te agradarem as minhas roupas de sempre, paciência, se não pertencer ao protótipo da vossa beleza, PACIÊNCIA!

    O que me levou aos distúrbios alimentares não foi só a minha insegurança, a minha necessidade de pertença, foram vocês todos que querem sempre mais de mim, que querem que eu seja isto e aquilo. E este pode ser um projecto em desenvolvimento, mas podem ter a certeza que já começou!

sábado, 4 de junho de 2011

Niguém

   Claro, posso desabafar e sei que as minhas amigas me ouvem e apoiam. No entanto, parece que não dá para remover esta sensação de vazio, solidão. Sensação esta que se instalou depois de uma mini-binge, penso que é aquele desapontamento por ter falhado redondamente depois de um dia bom - dia bom = não comer. Além do mais, estou com o período e todas nós sabemos como este ciclo influencia o humor de uma mulher. Mas vamos por partes, tentar ordenar os pensamentos, exterioriza-los aqui neste blog solitário e procurar um alívio, por mais ínfimo que seja.

   Sim, sei que fiz mal em não comer durante o dia e talvez tenha contribuído para esta mini compulsão alimentar. Não quero dar desculpas, mas este hábito de não comer depois de uma recaída é forte, muitíssimo forte.
Compulsão 
  • tostas com manteiga
  • maçã
  • uma quantidade enorme de mousse de chocolate
  • uma sandes de queijo
  • meia caixa de pringles
    Nem quero pensar na quantidade de calorias que aí estão. Não quero! Mas como vêem, podia ter sido pior, mas foi bastante mau. Foi bastante mau porque a minha intenção era não comer hoje, já que amanhã vou passar o fim de semana a Lisboa (visitar a família) e como vou ser obrigada a comer, queria ir o mais "magra" possível. E falhei nesse sentido. Sei que não vou tomar o pequeno almoço quando acordar e sei que vou a pé para a estação de comboios, assim fico com a consciência tranquila por ter comido esta noite. Portanto, vai ser um grande almoço no Sábado, tentar evitar o lanche, e um jantar saboroso e calórico. No Domingo, quero tentar sair da cama o mais tarde possível, de forma a evitar o pequeno almoço, e talvez, se tiver sorte, o almoço vai ser light. Veremos...
   Nem tudo está perdido, pois se eu tiver cuidado com a quantidade que ingerir pode ser que esta mudança repentina abale o meu organismo, juntado um fast na Segunda-Feira, emagreça. São estes os planos, veremos... vou esforçar-me, evitar a ansiedade para não cair na tentação.
   Acabei de me pesar, 52.9Kg. Horrível, mas ao menos não estou nos 53Kg. Agora só me peso na Terça-Feira, esperando que tudo corra como planeado até lá - eu consigo!!

   Quem me dera ter alguém a quem confessar estas coisas, mas sei que não há ninguém. Sei que está tudo errado, e não me apetece mudar, ainda na esperança de emagrecer outra vez.

   Outros acontecimentos.
   O espanhol.
   Merda. 
   Foi o aniversário dele. Eu contava em estar com ele, queria fazer-lhe companhia e queria, ainda mais, que ele quisesse estar comigo. Infelizmente, parece-me que perdeu todo o interesse em mim, todinho. Mesmo apesar de toda a minha aversão à comida, eu andei desejosa que ele me convidasse para jantar, eu cederia, de bom grado. Na minha mente já planeava um bom momento, com conversa, comida, carinho... Já ao início da noite, ponderei nas minhas atitudes com ele, será que não mostro o suficiente? Será que não mostrei que estou interessada, que desejo a companhia dele, que gosto de passar tempo com ele? Então, determinada em mostrar este interesse, em ser clara o suficiente, mandei-lhe uma mensagem a dizer que desejava ter estado com ele hoje. Como resposta? Nada. Rien.
   Há uma mistura de sentimentos aqui dentro. [um aparte, é possível que isto me tenha levado à compulsão]. Eu não sou capaz de perceber claramente o que dói, o que mói aqui dentro. Sinto... solidão, rejeição, tristeza, desamparo. E as velhas mentiras, construídas ao longo dos anos, emergem "não presto para nada, sou desinteressante, passiva, burra" para não falar do "feia, horrível, gorda, nojenta, fraca, inculta"
   Sim, tenho de enxotar estes pensamentos. Assumi que me interesso por ele, sou o que sou, estou a aprender, a crescer, a experimentar, a viver. Estou a tentar melhorar, a superar os meus medos e dificuldades. Não me vou envergonhar da mensagem, não me vou envergonhar de falar, de dizer o que penso, o que sinto. E se há alguém que se sinta incomodado, pois que fuja! Eu não me calo, nunca mais. Dói. Dor. A dor é para ser sentida, não vou recuar perante ela, sei que sou mais forte. Há-de chegar o dia em que supero até os distúrbios alimentares. Não vou ser cínica e dizer que é agora que fico "curada", mas estou lá perto. 
   Agora, encarei o medo da rejeição - um dos meus maiores medos; e não vou fugir outra vez. Sei que tenho muitos outros medos, isto é apenas um princípio, mas um princípio de um futuro glorioso.

   Pessoal, está na hora de nos erguermos. 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Solidão

  • Quero falar com alguém que perceba o que é ter uma compulsão depois de um dia de restrição muito controlada;
  • Quero que me digam que tudo vai correr bem, amanhã será melhor;
  • Quero mergulhar em braços e chorar;
  • Quero ter coragem para comer, amanhã;
  • Quero que me beijem;
  • Quero dormir;
  • Quero quebrar esta prisão;
  • Quero ter aquela coragem brilhante;
  • Quero estar sozinha na companhia de alguém;
  • Quero ver-te a fazer um esforço para estar comigo;
  • Quero quebrar os vícios;
  1. Amanhã, diz-me que sou linda;
  2. Amanhã, diz-me que me queres;
  3. Amanhã, abraça-me;
  4. Amanhã, beija-me;
  5. Amanhã, dá-me segurança;
  6. Amanhã, faz-me rir;
  7. Amanhã, diz que não me queres largar o dia todo;
  8. Amanhã, convida-me para jantar;
  9. Amanhã, convida-me a dançar;
  10. Amanhã, ama-me.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Life's a bitch!

   Life's a bitch, hmm?
   Depois de não estar com o espanhol há uma semana, com a restrição - a euforia que vem dela - que fui conquistando, telefona-me hoje. Logo hoje vou vê-lo na aula, depois de uma compulsão nojenta. Depois de um bom dia de controlo, acordo às 4 da manhã, a fome é muita e o cansaço também, para não falar da desorientação ensonada, caio na tentação e como. COMO, COMO, COMO!

   Para começar 2 waffles, depois pêssego enlatado e, ainda com fome, umas tostas com manteiga e queijo. E tentei ficar por aí, mas não sei que raio de linha pensamento segui, mas não me senti satisfeita e foi então que abri uma lata de leite condensado, despejei lá dentro chocolate em pó, misturei muito bem até ficar espesso o suficiente e, descontente com o aspecto mousse de chocolate que adquiriu, mergulhei outra waffle naquela piscina calórica. Logo na primeira colherada senti um vómito, mas continuei a forçar a entrada de mais uns bons, grandes e enjoativos pedaços de pecado. Parei quando o estômago protestou, a cabeça ficou tonta e a culpa assentou. Corri ao quarto de banho, enfiei a escova de dentes até ao fundo da garganta e, depois de dois súbditos vómitos, parei. Não vomitei, nunca vomito. Nem vale a pena, parece que não nos livramos da gordura com o vomitado.
   Cheia e enjoada, só pelas 8 da manhã consegui adormecer, para ser acordada às 11h e qualquer coisa pelo senhor espanhol. Estou com raiva dele. Tens de me acordar depois de uma compulsão?!! Eu esperava dormir até passarem os meus compromissos, poupando as pessoas da visão nojenta que eu me tornei esta manhã.
   Ainda escrevi a minha culpa antes de adormecer, e todas as palavras reflectem a necessidade de me castigar "não posso comer, não posso comer, não posso comer". A mesma ideia continua presa à minha mente. E, vá lá, não me podem culpar, como pode uma pessoa sentir-se bem, ou mesmo ignorar, este ataque voraz à comida? Ainda por cima tendo tido um controlo magnífico, poderoso, no dia anterior. Como posso evitar o não comer, a punição, a compensação?
  
   Mais incrível ainda, pesei-me antes da compulsão, ainda nos 53 Kg. Fiquei frustrada por não ver um número abaixo. Talvez o estúpido 53 tenha contribuído para comer tanto "Merda! Ainda aqui?" foi o que pensei. E é por essa razão também que hoje não quero comer, passar fome e amanhã de manhã voltar a subir à balança, esperando ver o 52kg. Nem que seja 52, 900gramas.

   Sabem que mais, BAH! Estou chateada! Comigo e com o mundo - mas, sim, mais comigo e o meu falhanço.

sábado, 21 de maio de 2011

Às vezes parece que adivinho...

   Muitas vezes temos compulsões alimentares depois de notícias que mexem connosco emocionalmente. Tudo bem, provavelmente as compulsões de ontem e hoje são da apresentação que tenho de preparar para segunda (que mal comecei e já são 23.35 de Sábado) e talvez do período que está prestes a chegar... mas acontecimentos stressantes depois de 2 dias de compulsão ainda me põem pior. O brasileiro deixou-me uma mensagem no mural do Facebook a dizer que tinha visto a minha amiga.

Quê? Que tenho eu a ver com isso? Por que me vens com uma observação desinteressante, desnecessária, despropositada depois de tanto tempo sem falarmos?

   Pensei eu. E fui ver o que se passava na sua página do FB. Ora, a maior surpresa, está numa relação com uma miúda de 18 anos, possivelmente brasileira. Não me devia incomodar, principalmente se eu nunca gostei realmente dele. Todavia... ela é magra. Um sorriso bonito, pernas bonitas, uma silhueta elegante, magra, magra, magra. Deve ser inteligente, divertida, atenciosa, despreocupada e, claro, não deve sofrer de distúrbios alimentares. A comida não deve consumir toda a sua vida. Aposto que come o que quer sem se preocupar com o peso.

   Ainda me sinto pior pelas compulsões. Hoje já enfiei a escova de dentes até à parte de trás da garganta umas 4 vezes. Nada de vomitar comida, apenas cuspo, engasganço e saliva. Sou de tal forma inútil e medrosa que nem puxar o vomitado cá para fora consigo.

   Pois é, hoje odeio-me. Já tenho um plano para compensar, amanhã nada de comida e toca a fazer o trabalho! Depois, poucas calorias, poucas calorias até sexta, que será dia de outro - se tudo correr bem, esperemos que sim - fast.

   E só quero estar com o espanhol outra vez na terça, pois sinto-me demasiado nojenta.
   E é tudo por hoje, vou tentar fazer um pouco mais do trabalho - se conseguir.

Medos e sensações

São agora 2.43am.
Sinto uma certa melancolia, uma tristeza, um vazio. É um sentimento que não sei descodificar, que procuro anular com comportamentos auto-destrutivos. E talvez ao escrever consiga perceber um pouco melhor de onde vêm e/ou o que são, de qualquer forma, ao menos exteriorizo o que guardo neste casulo que construí.
Antes de mais, estou cansada. É tarde e passei o dia fora de casa, mas parece que não tenho coragem de me deitar e dormir, como se o amanhã me assustasse. E assusta, não quero acordar para os trabalhos e estudos da faculdade, nem para as limpezas da casa, muito menos para mais um dia a focar-me no que posso ou não comer. Se ao menos conseguisse dormir durante uma semana inteira, de seguida... Talvez tenha comido "mais do que devia" esta noite por não me querer deitar. Além do mais, sempre que fecho os olhos para o descanso do corpo e mente, não há um verdadeiro descanso para a minha mente, que começa  a focar-se no que não aconteceu, no que poderia ter acontecido, nos por quês do dia de hoje, etc..
Embora o meu ciclo menstrual seja irregular, imprevisível (provavelmente devido aos traumas constantes a que sujeito o meu corpo), é provável que o período esteja a chegar, logo traz consigo umas fomes maiores, um desejo por doces e um comportamento irritadiço e impaciente. Talvez seja por isso que tenha comido "mais do que devia".
Outra, o espanhol e eu iniciámos uma relação qualquer. Ambos sabemos que vai durar um mês e meio, mais coisa menos coisa, pois assim que o ano lectivo acabar, cada um vai para seu lado - e que lados distantes. Até agora, uns beijos. Contudo, sinto uma vontade enorme para mais, o mais que nunca tive, ou melhor, o mais a que sempre me recusei. Quero dar-me, quero sentir a paixão, o contacto físico, quero que ele me abrace, me beije, quero explodir seja de que maneira for. Mas até agora, uns beijos; beijos estes que me anseiam por mais.
Na quinta feira tive consulta com o psicólogo e saí de lá deprimida. Sentei-me a fumar um cigarro, a olhar a paisagem num desconforto emocional. Será que vale a pena viver? O que estou eu a fazer? O que hei-de fazer? Estou a matar-me. Não quero morrer. Mas não sei sair daqui. Será que quero mesmo sair deste ciclo? Perguntas, perguntas, perguntas... Nada de respostas. Senti um misto de não querer desiludir ninguém, de querer fugir rapidamente daqui, de não querer estar sozinha, de não querer companhia, de vazio, de medo, insegurança, tristeza, ódio de mim, amor por mim. Não sei, não sei.
Alimentação de hoje:
1 pêra
Morangos
Salada (alface, tomate, camarões, delícias do mar)
2 sandes mista
10 bolachas
1 bollycao

E assim sinto-me um NOJO hoje.
E não sei como vai ser amanhã. Sinto vontade de chocolate.

Continuo a não ter respostas. Apenas uma vontade de nada.
São agora 03.18am.  

terça-feira, 17 de maio de 2011

As Razões

   Tenho de admitir que existe uma pressão social para parecermos/sermos de uma certa maneira: há um padrão de beleza, um comportamento ideal e um determinado estatuto a que só se chega com uma certa quantidade e qualidade de coisas que se possui. E podem considerar-me fútil e influenciável, mas a verdade é que os meus distúrbios alimentares começaram em tenra idade, na procura de preencher estes requisitos que, inconscientemente, me chegaram. Eu tinha de, pura e simplesmente, pertencer e quantos mais feedbacks positivos recebia, melhor.
   Ainda hoje tenho a obsessão da magreza, do corpo feminino como sendo frágil, leve e pequeno, pois continuo a ouvir o desejo das mulheres em geral para este estereótipo. Amigas, conhecidas, mães, tias, avós, primas... O certo é que são as mulheres que alimentam esta "mania" ao fazerem e darem tudo por tudo para atingirem esta perfeição de beleza. E se somos nós que temos este poder de persuasão, não tenho dúvidas que, em conjunto, conseguiríamos quebrar estas correntes que nos limitam e destroem, tanto o corpo como a alma.
   Contudo, os meus longos anos com distúrbios alimentares e as suas várias facetas (anorexia, compulsão alimentar, ednos) reduziram a noção de magreza a ser somente a recompensa, à deliciosa recompensa, confesso. O que me prende a estes comportamentos auto-destrutivos hoje em dia é mais do que o simples desejo de ser magra (embora, novamente, seja ainda este o meu patamar de excelência). Eu venero a dor que a fome me traz, as tonturas por não comer, o vazio físico sobrepondo-se ao emocional e, sobretudo, o auto-controlo. Portanto, magreza = controlo, magreza = dor física, logo magreza = recompensa merecida e desejada.
   É claro, os episódios compulsivos são muitas vezes irresistíveis por também várias razões. Ora vejamos, um único episódio de, usando o termo inglês, binge eating preenche instantaneamente o vazio físico ao mesmo tempo que me deixa embriagada, "com a moca"; e, não menos aditivo, é a minha desculpa para me refugiar no meu quarto, fugindo de todos os medos do mundo exterior - que nem eu própria sei bem quais são. Mas todo este prazer momentâneo, que pode durar 1 dia, uma, duas semanas, ou até meses (anos...?) trazem a carga negativa da culpabilidade, do descontrolo total das minhas acções, um sentimento de imundice e falhanço. E, assim, nada melhor que a fome.

   Como sair deste ciclo que me destrói, sabendo que eu tanto o venero como odeio?   

sábado, 14 de maio de 2011

Com medo do amanhã...

   Aqui estou eu, submersa na sensação de falhanço, desilusão, descontrolo... Aqui estou eu, mais uma vez, com urgente necessidade de me auto-castigar sem saber como. Aqui estou eu, zangada e frustrada comigo mesmo, rezando a ninguém em particular, pedindo um sono longo para não ter de enfrentar outro dia. Pois é, acertaram, tive uma compulsão alimentar esta noite. Mais uma para a vasta e já incontável lista de episódios compulsivos. E agora?
   Bem, da minha mente oiço apenas uma resposta, e só esta faz sentido, é incontestável, é milagrosa, é o primeiro e mais sábio mandamento/regra/lei: amanhã passarás fome! Até o meu corpo reage fisicamente a esta ideia, como se de uma solução para todos os meus problemas se tratasse, sinto os meus músculos contorcerem-se com ansiedade pelo dia de amanhã, para poder passar fome, para me poder controlar, para poder compensar o erro (nojento) de hoje, para me castigar. Ultrapassando este próximo dia de estômago vazio sei que serei mais forte, mais capaz, mais digna da vossa (sejam vocês quem forem) companhia, enfim, estarei um pouco mais próxima da perfeição.
   Até aqui tudo muito bem, o plano é simples, directo e perfeito. Mas, agora dou-me de caras com o verdadeiro problema, como vou escapar ao almoço de família amanhã? E, pior, como vou ter coragem da ida à praia com esta barriga inchada, gordura acumulada, banhas que abanam, celulite que mais parece uma colónia de formigueiros? Como vou esconder o descontrolo desta noite?
   Questões que me esgotam, massacram, que fazem parte da rotina, que não me deixam respirar livremente, que me impedem de focar em assuntos normais, de pessoas normais. Dilemas considerados fúteis para muitos, mas obsessivos para pessoas como eu. Enfim, perguntas cuja resposta só o temível amanhã me dirá. E hoje já sei que o que acontecer amanhã será auto-destrutivo:

  • Se não comer, estou a preparar uma cilada ao meu corpo para uma compulsão num futuro muito breve (já para não falar na destruição massiva da minha saúde a longo prazo);
  • Se comer, a minha mente obsessiva irá deixar-me irritadiça, deprimida e no tão detestável transe comer-tudo-o-que-me-aparecer-à-frente.
   Para quem estiver a ler este texto e a pensar "simplesmente deixa de te preocupar com a magreza e etc.", digo-vos já que penso nisso todos os dias. Mas os maus hábitos são difíceis de romper... o disco parece estar neste loop estúpido.