Não faço a mínima ideia que título surgirá deste post, nem mesmo que texto se irá formar. Mas que interessa isso? Ninguém o vai ler, nem eu mesma vou reler estas palavras, são mais um eco meu perdido nas tranças largas da Internet. Sem dúvida que tenho um poço cheio dentro de mim, cheio de uma água suja e pestilenta, aposto que até corpos em decomposição flutuam neste poço. O problema é que não tenho coragem de mergulhar para vasculhar e analisar (até fico sem ar só de pensar) que medos/traumas/inseguranças possam estar por ali escondidos. Não, limito-me a observar daqui, da superfície, acobardada o suficiente pelo que vejo. E por onde começar? Oh bem, certamente, alimentação/corpo/distúrbios, que é o tema principal deste blog.
Tenho estado num transe de comer compulsivamente há sensivelmente uma semana. Ao desespero e depressão que estas compulsões trazem, juntemos-lhe uma onda de irritabilidade, choro descontrolado e dificuldade em adormecer. Eu espero que tudo isto seja da nossa amiga TPM, inclusive o comer compulsivo. Tenho perdido dias de praia, faltado a jantares e outros compromissos e toda a diversão do Verão simplesmente porque me sinto... o quê? Exacto, uma GORDA e NOJENTA VACA. Eu quero controlar-me, quero esquecer as compulsões, quero divertir-me, ir comer caracóis e marisco. Quero ir passear, aproveitar o sol, mergulhar na água do mar, ver uns concertos e namoriscar a cowboyada que por aí anda. Quero mesmo. No entanto, mal consigo arranjar forças para sair de casa, inchada, pesada, encalorada, prefiro esconder-me entre paredes. É triste, eu sei, mas tenho tal nojo de mim que simplesmente não consigo.
Imaginem, só para vos dar um pequeno exemplo, para não pensarem que estou a exagerar ou mesmo a fazer um auto-diagnóstico, não conseguirem adormecer por causa do excesso de comida no vosso estômago. Estão cheios, mal-dispostos, ensonados, com sede e calor e com um medo terrível do dia seguinte. Não saber como enfrentar o amanhã é das piores sensações, encontram-se perdidos, só pedem a alguém, ou a ninguém, para, com muitos por favores à mistura, vos deixarem morrer durante a noite. Ou então, milagrosamente, acordarem magros. Ah! Isso é que era, não fazem a mínima ideia quantas vezes este foi o meu desejo murmurado às almofadas. Desculpem, voltemos ao exemplo. Há uma crise de choro que tentam abafar e lá acabam por adormecer pelas 5-6 da manhã. Infelizmente continuam vivos, gordos e às 10h já estão de pestana aberta. Ora bolas, e agora? É o dia seguinte, o que faço? Isto porque, apesar de necessitarem de mais umas horinhas de sono, o medo desperta. Upa, toca a levantar, num total estado de desorientação e sem darem por ela, já estão com alguma coisa na boca - fruta, cereais, leite... o que estou eu a fazer? Merda, já que comecei... uma tosta mista, um iogurte e umas bolachas. Estou cheio. E cheio de sono. Mas não vão dormir. Esperam pela hora de almoço e continuam a comer. E bebem uns belos 2 ou 3 copos de vinho só porque já estão gordos. A vossa família já acabou de almoçar, cada um foi para o seu canto, alguém pergunta quais os planos desse dia. Mas vocês não podem ter planos, estão demasiado cheios para fazer seja o que for, ficam em casa. Não conseguem ter atenção a nada, não conseguem falar com ninguém, muito menos paciência para aturar a criançada. Só há uma coisa que ainda conseguem fazer - comer. O ritual continua até à noite, até ao dia seguinte.
Agora, acham que conseguem ter uma pequena ideia de como me tenho sentido esta semana? Ah! Vamos juntar a esta sopa o vosso irmão excessivamente magro. Olham para ele e é só pele e ossos, contudo, numa mórbida crença, vocês invejam aquela magreza excessiva. Observam-no de forma obsessiva, ele come só porcarias e a más horas, ele não faz exercício, trabalha demais, e está claramente abaixo do peso ideal. Todos à vossa volta largam comentários de preocupação em relação ao vosso irmão. São como bombas que vos enchem de raiva e ciúme, portanto, comem mais. E a vossa mãe? Cada vez mais magra, a fazer exercício todos os dias à vossa frente, a receber elogios de amigos, conhecidos e desconhecidos, a comprar roupa nova para o corpo novo, a planear uma tatuagem como prémio de exibição. E vocês, revoltados por estarem raivosos em vez de felizes por ela, fecham-se no quarto a comer.
Claro, podem dizer-me, usa-os como inspiração, junta-te à tua mãe nos exercícios, etc. etc.. Acham que ainda não pensei nisso? Ter ataques de voracidade não é propriamente uma escolha minha. Eu simplesmente não tenho controlo, pareço uma máquina criada unicamente para comer - e que belo trabalho faço. Vá, amanhã -hoje- é outro dia e a minha mente distorcida quer e acha que a única coisa a fazer é passar o dia a liquidos. E no dia seguinte continuar a passar fome e assim sucessivamente. E apesar de haver uma vozinha que me avisa que essa não é a solução, não senhora, a outra é mais forte.
Há mais coisas a contar, mas parece que nada tem tanta importância como o facto de estar a engordar a olhos vistos. Não tenho a vontade de escrever sobre como ainda penso no espanhol todos os dias - com raiva, saudade, tristeza; como não me consigo pôr a estudar; como não consigo rir; como não sou capaz de acreditar no amor; como o medo da intimidade; como a melancolia; como a exposição de repteis que visitei hoje; como aquele rapaz que engraçou comigo; como a evil não me manda mesada e como não tenho coragem de lhe telefonar... Mas sei, ou estou convencida de que, vou ser capaz de enfrentar tudo isto quando emagrecer outra vez, quando começar a ter controlo sobre a comida. Até lá, a todos vocês que nada disto lêem, boa sorte.
Este ganso nasceu para ser gordo. Todo o seu organismo está programado para uma certa gordura corporal que fogem do estereótipo de beleza estipulado pela sociedade. Mas o ganso resolve protestar consigo mesmo e entra em regime alimentar - ora ignora todos os sinais da fome de forma rebelde, ora manda tudo à fava e enfarta-se até ficar bem gordinho. E foi assim que ganhou a alcunha de Sísifo!
Eu li... e identifiquei-me com o "ritual" que começa de manha e dura até à noite! Para recomeçar no dia seguinte! Aliás para mim também está muito difícil quebrar o "ritual". Mas vamos conseguir...temos que conseguir!
ResponderExcluirBeijinho