terça-feira, 31 de maio de 2011

Life's a bitch!

   Life's a bitch, hmm?
   Depois de não estar com o espanhol há uma semana, com a restrição - a euforia que vem dela - que fui conquistando, telefona-me hoje. Logo hoje vou vê-lo na aula, depois de uma compulsão nojenta. Depois de um bom dia de controlo, acordo às 4 da manhã, a fome é muita e o cansaço também, para não falar da desorientação ensonada, caio na tentação e como. COMO, COMO, COMO!

   Para começar 2 waffles, depois pêssego enlatado e, ainda com fome, umas tostas com manteiga e queijo. E tentei ficar por aí, mas não sei que raio de linha pensamento segui, mas não me senti satisfeita e foi então que abri uma lata de leite condensado, despejei lá dentro chocolate em pó, misturei muito bem até ficar espesso o suficiente e, descontente com o aspecto mousse de chocolate que adquiriu, mergulhei outra waffle naquela piscina calórica. Logo na primeira colherada senti um vómito, mas continuei a forçar a entrada de mais uns bons, grandes e enjoativos pedaços de pecado. Parei quando o estômago protestou, a cabeça ficou tonta e a culpa assentou. Corri ao quarto de banho, enfiei a escova de dentes até ao fundo da garganta e, depois de dois súbditos vómitos, parei. Não vomitei, nunca vomito. Nem vale a pena, parece que não nos livramos da gordura com o vomitado.
   Cheia e enjoada, só pelas 8 da manhã consegui adormecer, para ser acordada às 11h e qualquer coisa pelo senhor espanhol. Estou com raiva dele. Tens de me acordar depois de uma compulsão?!! Eu esperava dormir até passarem os meus compromissos, poupando as pessoas da visão nojenta que eu me tornei esta manhã.
   Ainda escrevi a minha culpa antes de adormecer, e todas as palavras reflectem a necessidade de me castigar "não posso comer, não posso comer, não posso comer". A mesma ideia continua presa à minha mente. E, vá lá, não me podem culpar, como pode uma pessoa sentir-se bem, ou mesmo ignorar, este ataque voraz à comida? Ainda por cima tendo tido um controlo magnífico, poderoso, no dia anterior. Como posso evitar o não comer, a punição, a compensação?
  
   Mais incrível ainda, pesei-me antes da compulsão, ainda nos 53 Kg. Fiquei frustrada por não ver um número abaixo. Talvez o estúpido 53 tenha contribuído para comer tanto "Merda! Ainda aqui?" foi o que pensei. E é por essa razão também que hoje não quero comer, passar fome e amanhã de manhã voltar a subir à balança, esperando ver o 52kg. Nem que seja 52, 900gramas.

   Sabem que mais, BAH! Estou chateada! Comigo e com o mundo - mas, sim, mais comigo e o meu falhanço.

sábado, 21 de maio de 2011

Às vezes parece que adivinho...

   Muitas vezes temos compulsões alimentares depois de notícias que mexem connosco emocionalmente. Tudo bem, provavelmente as compulsões de ontem e hoje são da apresentação que tenho de preparar para segunda (que mal comecei e já são 23.35 de Sábado) e talvez do período que está prestes a chegar... mas acontecimentos stressantes depois de 2 dias de compulsão ainda me põem pior. O brasileiro deixou-me uma mensagem no mural do Facebook a dizer que tinha visto a minha amiga.

Quê? Que tenho eu a ver com isso? Por que me vens com uma observação desinteressante, desnecessária, despropositada depois de tanto tempo sem falarmos?

   Pensei eu. E fui ver o que se passava na sua página do FB. Ora, a maior surpresa, está numa relação com uma miúda de 18 anos, possivelmente brasileira. Não me devia incomodar, principalmente se eu nunca gostei realmente dele. Todavia... ela é magra. Um sorriso bonito, pernas bonitas, uma silhueta elegante, magra, magra, magra. Deve ser inteligente, divertida, atenciosa, despreocupada e, claro, não deve sofrer de distúrbios alimentares. A comida não deve consumir toda a sua vida. Aposto que come o que quer sem se preocupar com o peso.

   Ainda me sinto pior pelas compulsões. Hoje já enfiei a escova de dentes até à parte de trás da garganta umas 4 vezes. Nada de vomitar comida, apenas cuspo, engasganço e saliva. Sou de tal forma inútil e medrosa que nem puxar o vomitado cá para fora consigo.

   Pois é, hoje odeio-me. Já tenho um plano para compensar, amanhã nada de comida e toca a fazer o trabalho! Depois, poucas calorias, poucas calorias até sexta, que será dia de outro - se tudo correr bem, esperemos que sim - fast.

   E só quero estar com o espanhol outra vez na terça, pois sinto-me demasiado nojenta.
   E é tudo por hoje, vou tentar fazer um pouco mais do trabalho - se conseguir.

Medos e sensações

São agora 2.43am.
Sinto uma certa melancolia, uma tristeza, um vazio. É um sentimento que não sei descodificar, que procuro anular com comportamentos auto-destrutivos. E talvez ao escrever consiga perceber um pouco melhor de onde vêm e/ou o que são, de qualquer forma, ao menos exteriorizo o que guardo neste casulo que construí.
Antes de mais, estou cansada. É tarde e passei o dia fora de casa, mas parece que não tenho coragem de me deitar e dormir, como se o amanhã me assustasse. E assusta, não quero acordar para os trabalhos e estudos da faculdade, nem para as limpezas da casa, muito menos para mais um dia a focar-me no que posso ou não comer. Se ao menos conseguisse dormir durante uma semana inteira, de seguida... Talvez tenha comido "mais do que devia" esta noite por não me querer deitar. Além do mais, sempre que fecho os olhos para o descanso do corpo e mente, não há um verdadeiro descanso para a minha mente, que começa  a focar-se no que não aconteceu, no que poderia ter acontecido, nos por quês do dia de hoje, etc..
Embora o meu ciclo menstrual seja irregular, imprevisível (provavelmente devido aos traumas constantes a que sujeito o meu corpo), é provável que o período esteja a chegar, logo traz consigo umas fomes maiores, um desejo por doces e um comportamento irritadiço e impaciente. Talvez seja por isso que tenha comido "mais do que devia".
Outra, o espanhol e eu iniciámos uma relação qualquer. Ambos sabemos que vai durar um mês e meio, mais coisa menos coisa, pois assim que o ano lectivo acabar, cada um vai para seu lado - e que lados distantes. Até agora, uns beijos. Contudo, sinto uma vontade enorme para mais, o mais que nunca tive, ou melhor, o mais a que sempre me recusei. Quero dar-me, quero sentir a paixão, o contacto físico, quero que ele me abrace, me beije, quero explodir seja de que maneira for. Mas até agora, uns beijos; beijos estes que me anseiam por mais.
Na quinta feira tive consulta com o psicólogo e saí de lá deprimida. Sentei-me a fumar um cigarro, a olhar a paisagem num desconforto emocional. Será que vale a pena viver? O que estou eu a fazer? O que hei-de fazer? Estou a matar-me. Não quero morrer. Mas não sei sair daqui. Será que quero mesmo sair deste ciclo? Perguntas, perguntas, perguntas... Nada de respostas. Senti um misto de não querer desiludir ninguém, de querer fugir rapidamente daqui, de não querer estar sozinha, de não querer companhia, de vazio, de medo, insegurança, tristeza, ódio de mim, amor por mim. Não sei, não sei.
Alimentação de hoje:
1 pêra
Morangos
Salada (alface, tomate, camarões, delícias do mar)
2 sandes mista
10 bolachas
1 bollycao

E assim sinto-me um NOJO hoje.
E não sei como vai ser amanhã. Sinto vontade de chocolate.

Continuo a não ter respostas. Apenas uma vontade de nada.
São agora 03.18am.  

terça-feira, 17 de maio de 2011

As Razões

   Tenho de admitir que existe uma pressão social para parecermos/sermos de uma certa maneira: há um padrão de beleza, um comportamento ideal e um determinado estatuto a que só se chega com uma certa quantidade e qualidade de coisas que se possui. E podem considerar-me fútil e influenciável, mas a verdade é que os meus distúrbios alimentares começaram em tenra idade, na procura de preencher estes requisitos que, inconscientemente, me chegaram. Eu tinha de, pura e simplesmente, pertencer e quantos mais feedbacks positivos recebia, melhor.
   Ainda hoje tenho a obsessão da magreza, do corpo feminino como sendo frágil, leve e pequeno, pois continuo a ouvir o desejo das mulheres em geral para este estereótipo. Amigas, conhecidas, mães, tias, avós, primas... O certo é que são as mulheres que alimentam esta "mania" ao fazerem e darem tudo por tudo para atingirem esta perfeição de beleza. E se somos nós que temos este poder de persuasão, não tenho dúvidas que, em conjunto, conseguiríamos quebrar estas correntes que nos limitam e destroem, tanto o corpo como a alma.
   Contudo, os meus longos anos com distúrbios alimentares e as suas várias facetas (anorexia, compulsão alimentar, ednos) reduziram a noção de magreza a ser somente a recompensa, à deliciosa recompensa, confesso. O que me prende a estes comportamentos auto-destrutivos hoje em dia é mais do que o simples desejo de ser magra (embora, novamente, seja ainda este o meu patamar de excelência). Eu venero a dor que a fome me traz, as tonturas por não comer, o vazio físico sobrepondo-se ao emocional e, sobretudo, o auto-controlo. Portanto, magreza = controlo, magreza = dor física, logo magreza = recompensa merecida e desejada.
   É claro, os episódios compulsivos são muitas vezes irresistíveis por também várias razões. Ora vejamos, um único episódio de, usando o termo inglês, binge eating preenche instantaneamente o vazio físico ao mesmo tempo que me deixa embriagada, "com a moca"; e, não menos aditivo, é a minha desculpa para me refugiar no meu quarto, fugindo de todos os medos do mundo exterior - que nem eu própria sei bem quais são. Mas todo este prazer momentâneo, que pode durar 1 dia, uma, duas semanas, ou até meses (anos...?) trazem a carga negativa da culpabilidade, do descontrolo total das minhas acções, um sentimento de imundice e falhanço. E, assim, nada melhor que a fome.

   Como sair deste ciclo que me destrói, sabendo que eu tanto o venero como odeio?   

sábado, 14 de maio de 2011

Com medo do amanhã...

   Aqui estou eu, submersa na sensação de falhanço, desilusão, descontrolo... Aqui estou eu, mais uma vez, com urgente necessidade de me auto-castigar sem saber como. Aqui estou eu, zangada e frustrada comigo mesmo, rezando a ninguém em particular, pedindo um sono longo para não ter de enfrentar outro dia. Pois é, acertaram, tive uma compulsão alimentar esta noite. Mais uma para a vasta e já incontável lista de episódios compulsivos. E agora?
   Bem, da minha mente oiço apenas uma resposta, e só esta faz sentido, é incontestável, é milagrosa, é o primeiro e mais sábio mandamento/regra/lei: amanhã passarás fome! Até o meu corpo reage fisicamente a esta ideia, como se de uma solução para todos os meus problemas se tratasse, sinto os meus músculos contorcerem-se com ansiedade pelo dia de amanhã, para poder passar fome, para me poder controlar, para poder compensar o erro (nojento) de hoje, para me castigar. Ultrapassando este próximo dia de estômago vazio sei que serei mais forte, mais capaz, mais digna da vossa (sejam vocês quem forem) companhia, enfim, estarei um pouco mais próxima da perfeição.
   Até aqui tudo muito bem, o plano é simples, directo e perfeito. Mas, agora dou-me de caras com o verdadeiro problema, como vou escapar ao almoço de família amanhã? E, pior, como vou ter coragem da ida à praia com esta barriga inchada, gordura acumulada, banhas que abanam, celulite que mais parece uma colónia de formigueiros? Como vou esconder o descontrolo desta noite?
   Questões que me esgotam, massacram, que fazem parte da rotina, que não me deixam respirar livremente, que me impedem de focar em assuntos normais, de pessoas normais. Dilemas considerados fúteis para muitos, mas obsessivos para pessoas como eu. Enfim, perguntas cuja resposta só o temível amanhã me dirá. E hoje já sei que o que acontecer amanhã será auto-destrutivo:

  • Se não comer, estou a preparar uma cilada ao meu corpo para uma compulsão num futuro muito breve (já para não falar na destruição massiva da minha saúde a longo prazo);
  • Se comer, a minha mente obsessiva irá deixar-me irritadiça, deprimida e no tão detestável transe comer-tudo-o-que-me-aparecer-à-frente.
   Para quem estiver a ler este texto e a pensar "simplesmente deixa de te preocupar com a magreza e etc.", digo-vos já que penso nisso todos os dias. Mas os maus hábitos são difíceis de romper... o disco parece estar neste loop estúpido.