A sensação no mundo é a seguinte: estamos a ser completamente controlados por aqueles com poder (sendo poder igual a dinheiro); todos nós somos influenciados por um mundo de entretenimento, mentiras são contadas uma e outra vez até acreditarmos nelas, gastamos parte do nosso dinheiro em tudo o que foi elaboradamente esquematizado e alterado para uns ganharem mais dinheiro, a outra parte é-nos tirado de forma a acreditarmos que é necessário este roubo. Desde a comida, às roupas, aos gadgets, à informação, ao lazer, tudo suga. Investimos naquilo que nos dizem que irá trazer bem-estar, felicidade, harmonia, plenitude, e insistimos, insistimos, e com o que é que ficamos? Nada. Nada a nível material, nada a nível espiritual, nada a nível emocional. Um grande nada que sentimos no mais profundo do nosso ser. O que fazemos então? Continuamos a colocar-nos em frente à televisão, absorvendo as verdades que nos contam, sobre o mundo, sobre o melhor estilo de vida, sobre um equilíbrio que não temos.
É preciso mudar, dizem-nos. Ergue-te, fala, luta pelo que acreditas. Muda, evolui, revolta-te. Ajuda-nos a revolucionar esta merda de sociedade em que nos encontramos. Já chega que estes sacanas fiquem com tudo que é nosso, nos controlem, nos façam de burros, incompletos. Esta é a altura de dizer não, não me prendem mais, não ditem como tenho de viver, como devo pensar, quem devo ser, pois todos somos um. Somos UM grande, brilhante, forte, capaz, completo.
E assim ficamos com o bichinho da mudança, da revolução. Mas como? Como podemos mudar esta máquina grandiosa que nos manipula? O que posso eu fazer? Eu não sei, NÃO SEI!!! Portanto, deixo esta minha veia consumista – não preciso de me vestir como os outros, de ter aquele vestido espectacular, aqueles ténis na moda, nem mesmo aquela maquilhagem que me vai pôr mais bonita. Já estou a cortar na mão de obra barata, na exploração, num dar constante àqueles que já muito têm. Deixo esta outra minha veia, mais difícil, de gulotona – não, não preciso de mais um hambúrguer, etc. daquelas ricas e altamente químicas cadeias de fast-food, nem dos alimentos puramente alterados cujos ingredientes naturais desapareceram. Deixo esta minha veia, igualmente muitíssimo difícil por estar tão presente na minha ideia de quem SOU, de perfeição.
Vou ser diferente. Como? Sendo eu mesma! Ao inicio vai custar, visto que já estou tão perdida numa ideia que alguém criou sobre mim mesma. Tenho de desconstruir tudo, peça a peça, falar sobre isto e aquilo, mesmo não tendo opinião, arriscar num pensamento, riscá-lo e ter outro, até saber o que gosto, o que quero, o que penso. Porque nem o que penso e/ou acredito sei. Como mudar eficazmente a podre da sociedade não sei, não encontrei nenhum livro do género. Mas, ao menos, sei que já não quero pertencer a esta corrente material, mentirosa e manhosa. Se eu falar mal, paciência, se não te agradarem as minhas roupas de sempre, paciência, se não pertencer ao protótipo da vossa beleza, PACIÊNCIA!
O que me levou aos distúrbios alimentares não foi só a minha insegurança, a minha necessidade de pertença, foram vocês todos que querem sempre mais de mim, que querem que eu seja isto e aquilo. E este pode ser um projecto em desenvolvimento, mas podem ter a certeza que já começou!
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